quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

O professor

Certa vez um aluno perguntou ao seu professor por que ele era tão exigente em suas aulas.

O professor fez um breve momento de reflexão, e, após uns poucos instantes, devolveu a pergunta ao aluno:

Por que você é tão questionador em nossas aulas?

Dessa vez, foi o aluno que fez uma pequena pausa para responder. Mas bem decidido, respondeu ao seu professor:

Ah! Professor, talvez porque aprendi que uma pessoa que faz perguntas aprende mais.

E você se considera um aluno que tem sempre aprendido um pouco mais – pergunta-lhe o professor.

Talvez sim, professor. Penso que todos os dias tenho aprendido um pouco mais.

Muito bem, e a quem ou a que você atribui o seu sucesso na escola?

Ah! Primeiramente, ao incentivo de meus pais e a implicância deles comigo para que todos os dias eu vá à escola. Depois, porque, apesar de muitas vezes ficar zangado com eles por essa insistência de eu ir à escola, entendi que é na escola que eu posso pensar em ter um futuro profissional de sucesso.

Percebe-se que você é um garoto inteligente e que formula bem o seu pensamento. Você fala muito bem, sabia?

Ah! Obrigado professor!
Você gosta de ler?
Se gosto de ler...!? Eu devoro livros!
E qual a disciplina de que mais você gosta?

Professor, não sei dizer exatamente, mas de uma coisa eu sei: quando me sinto desafiado, aí eu dou tudo de mim e, ainda que eu não goste muito da disciplina, e não vá muito com a cara do professor, eu tento mostrar, primeiramente para mim, que sou capaz de sempre ir mais além. Depois, para que os outros também reconheçam o meu valor. Se outros conseguiram, por que eu não posso também conseguir?

Meu rapaz, agora vou lhe responder a sua pergunta inicial: por que sou tão exigente em minhas aulas.

Primeiro, porque acredito no potencial de meus alunos. Segundo, porque tenho compromisso com a educação de minha gente, pois também sou o responsável direto ou indireto pelo sucesso ou fracasso desta nação. De modo, que, acreditando em meu aluno e cobrando dele sua responsabilidade, não somente contribuo para o seu progresso, como também estou contribuindo para o desenvolvimento do país. Afinal, você hoje de 13, 14, 15 anos de idade, de uma maneira ou de outra, é quem vai conduzir esse imenso país daqui a alguns anos. Se até lá, você estiver bem preparado, talvez tenhamos um nação ordeira, sustentável e progressista.

Poxa, professor! Assim o senhor está colocando uma carga muito pesada sobre nossos ombros. Veja, só tenho 13 anos. Não tenho que ficar me preocupando com coisas de adultos...

De fato, meu pequeno jovem... – interrompe o professor – hoje, a responsabilidade é nossa: nós, que fazemos a sua escola, seus pais, os adultos de hoje. Cabe a nós esta honrosa missão, muitas vezes árdua, de ensinar as nossas crianças e adolescentes valores éticos e morais que os ajudem a crescer com dignidade e respeito, para que, no futuro, possam dirigir essa nação com hombridade.

Hom bri da de”! Que palavra é essa, professor?
Hombridade significa:  Dignidade, nobreza de caráter..., Altivez louvável.

 É, professor, é difícil para nós, entender tudo isso. Afinal, o que queremos mesmo é ser livres. Ter o direito de escolhas. Ser o dono de nossas ações. Por outro lado, reconhecemos que tudo o que fizermos agora vai refletir em nossa vida mais à frente.

Meu caro menino, você agora falou como pessoa adulta! Talvez assim agora fique mais fácil para que eu possa fazer que você e seus colegas aqui presentes possam entender o porquê de nossa exigência. Ainda que hoje o aluno nos ache “chatos”, nossa esperança é que no futuro ele possa compreender o porquê de tudo isso.

Ei professor, esse porquê que o senhor usou é junto e com acento, não é isso?

Muito bem, Romualdo, acertou na mosca!

E a aula prossegue...





Rivaldo Neri – graduado em Letras, com pós-graduação em Docência do Ensino Superior, professor da Secretaria de Educação do Distrito Federal e cursando o 10º semestre do curso de Psicologia. Exerceu a profissão de radialista de 1985 a 2000.

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